domingo, 28 de outubro de 2012

Haddad diz que irá 'derrubar muro da vergonha que separa' São Paulo

Fernando Haddad, do PT, eleito prefeito de São Paulo para os próximos quatro anos, afirmou na noite deste domingo (28), em seu discurso de vitória, que irá derrubar o "muro da vergonha que separa a cidade rica da cidade pobre".
Fernando Haddad (PT) comemora eleição em São Paulo (Foto: Vagner Campos/G1)
"São Paulo não é uma ilha, não é uma cidade murada, precisa fazer parceria", disse, referindo-se principalmente ao governo federal.
Com 100% dos votos apurados, segundo a Justiça Eleitoral, o petista teve 3.387.720 votos, o que corresponde a 55,57% dos votos válidos, contra 2.708.768 de José Serra (PSDB) – 44,33%
A vitória marca o retorno do PT à Prefeitura da capital paulista oito anos após Marta Suplicy deixar o comando da cidade. Desde então, se seguiram as gestões de José Serra e Gilberto Kassab (PSD).
No pronunciamento, Haddad, de 49 anos, reiterou que quer "acabar com a desigualdade" na cidade e que este "objetivo central está plenamente delineado, discutido e aprovado pela maioria do povo de São Paulo". "São Paulo tem que ser antes de tudo uma cidade-lar, um teto digno debaixo do qual toda família possa realizar seu sonho de ser feliz. São Paulo é de todos os nascidos aqui, é de todos os que vieram pa cá, São Paulo é de todo o Brasil", afirmou o novo prefeito. "Somos ao mesmo tempo uma das mais ricas e das mais desiguais do planeta."
Em seguida, agradeceu ao ex-presidente Lula, puxando o coro "Olê, olê, olê, olá, Lula, Lula". "Agradeço ao presidente Lula do fundo do coração pelo apoio, sem os quais seria impossível eu lograr qualquer êxito nas eleições." O novo prefeito também agradeceu à presidente Dilma Rousseff. "Agradeço à presidenta Dilma pela presença vigorosa na campanha desde o primeiro turno, pelo conforto nos momentos mais difíceis do primeiro turno."
Logo no início de sua fala, no Hotel Intercontinental, na região da Avenida Paulista, Haddad agradeceu aos paulistanos pela "vontade soberana" e disse ser "uma alegria imensa, uma enorme responsabilidade" ser prefeito da maior cidade do país. "Quero agradecer em pirmeiro lugar aos milhões de homens e mulheres que me confiaram o voto. Em seguida, minha família, minha mulher Ana Estela, minha filha Carolina, meu filho Frederico, que estiveram juntos nessa jornada."
Haddad elogiou os partidos coligados, a vice, Nádia Campeão, e os apoios no segundo turno. "Quero agradecer aos apoiadores, que ampliaram nossa corrente no segundo turno, os quais dedico minha homenagem na figura do querido deputado Gabriel Chalita e do vice-presidente Michel Temer. Muito obrigado, Michel Temer. E quero fazer um agradecimento super especial ao meu partido, o Partido dos Trabalhadores."
"Quero agradecer por último, mas não menos importante, aos meus opositores, porque me obrigaram nessa campanha a extrair o melhor de mim para lutar limpo. Fui eleito por um sentimento de mudança e sei dá enorme responsabiliade de todos que são eleitos por essa força."
Haddad vota ao lado da filha (Foto: Marcos Bezerra/Futura Press/Estadão Conteúdo)Haddad vota ao lado da filha (Foto: Marcos Bezerra/Futura Press/Estadão Conteúdo)
Perfil
Haddad foi ministro da Educação entre 2005 e 2012, quando licenciou-se para disputar a Prefeitura de São Paulo. O convite partiu do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que defendeu a escolha de Haddad em detrimento de nomes tradicionais do PT, entre os quais a ex-prefeita Marta Suplicy.
Filho de comerciantes do Bom Retiro, na região central de São Paulo, aos 18 anos Haddad entrou para a Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), no Largo de São Francisco. Formou-se bacharel em 1985. Também pela USP, tornou-se mestre em economia com especialização em economia política em 1990 e doutor em filosofia em 1996. Foi professor de teoria política contemporânea no Departamento de Ciência Política da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Sociais da USP, analista de investimento do Unibanco e consultor da Fundação de Pesquisas Econômicas (Fipe).
Haddad também foi chefe de gabinete da Secretaria de Finanças e Desenvolvimento Econômico da Prefeitura de São Paulo na gestão Marta e secretário executivo do Ministério da Educação. Haddad escreveu os livros "O Sistema Soviético", "Em Defesa do Socialismo", "Desorganizando o consenso", "Sindicatos, cooperativas e socialismo" e "Trabalho e linguagem."
Em 2001, ele assumiu a chefia de gabinete da secretaria municipal de Finanças na gestão da prefeita Marta Suplicy. Dois anos depois, tornou-se assessor especial do ministro do Planejamento, Guido Mantega.
Campanha
O resultado mostrou uma variação significativa para o candidato petista em relação ao primeiro turno. Serra havia ficado em primeiro com 30,75% dos votos válidos, e Haddad, em segundo, com 28,98%. Com a migração de boa parte dos votos dos outros concorrentes, Haddad levou o pleito. Haddad teve o apoio de Gabriel Chalita (PMDB). Já Serra contou com o apoio de Soninha Francine (PPS) e de Paulinho da Força (PDT). Celso Russomanno (PRB) ficou neutro no segundo turno.
No primeiro turno, Russomanno foi o alvo principal dos concorrentes por liderar as pesquisas. Já no segundo turno, o tucano e o petista levantaram diferentes temas para tentar mostrar suas qualidades e a desvantagem de se votar no adversário.
A primeira grande polêmica do segundo turno foi o chamado “kit gay”. O pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, declarou apoio a Serra e criticou a elaboração do kit pelo Ministério da Educação para combater a homofobia nas escolas. Serra também criticou o material produzido. O assunto ganhou ainda mais repercussão após vir a público que Serra também havia produzido um kit contra a homofobia em escolas durante sua gestão no governo do estado, em 2009.

Serra então passou a se mostrar como o candidato que apostou em parcerias com organizações sociais (OSs) para a gestão de hospitais públicos. E afirmou diversas vezes que a saúde cairia de qualidade com Haddad e que as parcerias iriam acabar. O petista negou.

Serra citou ainda as falhas na aplicação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e repetiu por diversas vezes em seu programa que era o mais experiente e capaz de tirar propostas do papel.
Haddad
O petista insistiu no fato de Serra ter deixado a Prefeitura em 2006 para disputar o governo do estado, dois anos antes do fim do mandato. Bateu na tecla de que só o PT tinha um plano de governo bem elaborado, pensado desde janeiro e publicado em agosto. Já o plano de Serra, publicado no meio do segundo turno, segundo Haddad, era uma “carta de intenções” sem metas.
Capital paulista (Foto: Arte/G1)
O candidato do PT criticou duramente a gestão Kassab, que chegou ao poder como vice de Serra. Uma das áreas mais atacadas foi a da habitação. Na TV, Haddad afirmou que as 28 mil unidades feitas por Serra e Kassab representam número bem menor que as gestões petistas - Luiza Erundina (1988-1992) construiu 36 mil moradias populares em quatro anos, e Marta, cerca de 23 mil.
O tema foi um dos usados por Haddad para afirmar que vai “desbloquear” a cidade. Segundo ele, por motivos políticos, a Prefeitura não usava a verba federal. Entre as promessas é trazer o programa Minha Casa Minha Vida e o uso de verba federal para a construção de 172 creches.
Haddad rebateu as críticas feitas por Serra a sua gestão à frente do Ministério da Educação. Ele citou a criação do ProUni, que concede bolsas em faculdades particulares a alunos da rede pública, como um dos programas que criou.
Entre as propostas que Haddad destacou está a criação do Arco do Futuro, proposta de descentralização da cidade levando o crescimento para regiões como a Avenida Cupecê, na Zona Sul. Haddad propôs também concluir três hospitais prometidos por Kassab, criar a Rede Hora Certa para concentrar atendimentos, exames e cirurgias em postos de saúde, e a criação do Bilhete Único Mensal. As informações são do G1.

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