(Foto: Reprodução/TV Globo) |
A origem dos tiros que mataram a menina ainda é apurada pela Polícia Civil. PMs mataram dois criminosos ao lado da escola e foram presos após a divulgação de um vídeo que mostra os dois policiais executando os homens, já baleados e desarmados.
Benjamin disse que "não resta dúvida de que os assassinos foram policiais militares que, de uma distância de cerca de 250 metros, decidiram alvejar com tiros de fuzil dois homens que transitavam armados [...] Maria Eduarda recebeu quatro tiros."
A assessoria de imprensa da PM disse que "não comenta ilações" e que a Delegacia de Homicídios está apurando o caso.
Um laudo preliminar aponta que a estudante foi vítima de "ferimentos transfixiantes do encéfalo" causados por "projéteis de arma de fogo".
O corpo de Maria Eduardo foi enterrado no sábado (1), diante de muita comoção e revolta. Parentes também acusam os policiais e chegaram a dizer que ela não foi vítima de bala perdida e teria sido executada.
Veja a íntegra da carta:
"AOS PROFISSIONAIS DO ENSINO PÚBLICO
1. Na quinta-feira, 30 de março, nossa aluna Maria Eduarda Alves da Conceição, de treze anos, foi baleada e morta nas dependências da escola Jornalista Daniel Piza, em Acari. Não resta dúvida de que os assassinos foram policiais militares que, de uma distância de cerca de 250 metros, decidiram alvejar com tiros de fuzil dois homens que transitavam armados. Atrás desses homens, dentro da escola, nossos alunos praticavam voleibol. Ficaram, pois, na linha de fogo. Maria Eduarda recebeu quatro tiros fatais.
Seguiu-se um intenso confronto, que se prolongou por algumas horas e se estendeu até a avenida Brasil. Nossos professores, o diretor da escola e a coordenadora da 6ª CRE, professora Rejane Pereira Faria da Costa, comportaram-se heroicamente, protegendo os demais alunos e impedindo que houvesse mais vítimas.
Não é possível exagerar a boçalidade da ação policial.
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2. Até hoje, sábado, dia 1 de abril, nossa preocupação concentrou-se no amparo à família, que prossegue. Pai, mãe, irmão e amigos vivem uma situação dolorosíssima, que se estende a todos nós.
Com nossa assistência direta, Maria Eduarda teve velório e sepultamento dignos, em local escolhido pela família.
Um grupo de assistentes sociais e psicólogos está mobilizado para ajudar os colegas, professores e funcionários que foram diretamente afetados.
Eu me reunirei com o corpo docente na segunda ou na terça-feira – aguardo o chamado dos professores – para debatermos como será a reorganização das atividades escolares.
* * *
3. Infelizmente, essa tragédia não foi um fato isolado. Somente ontem, sexta-feira, 31 de março, a violência provocou o fechamento de 25 escolas em diversos bairros e comunidades, deixando 6.227 alunos sem aulas. Três outras escolas abriram, mas nenhum aluno compareceu, por falta de segurança nas imediações de cada uma delas. Essa situação tem se repetido todos os dias.
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4. Por isso, diversas ações já estavam em curso no âmbito da nossa secretaria.
A experiência positiva do grupo de trabalho sobre o Complexo da Maré, com a participação dos diretores, está sendo estendida a outros territórios conflagrados.
No dia 10 de março emiti um memorando interno, dirigido às subsecretarias de gestão e de ensino, nos seguintes termos: “A resolução em vigor, que define escolas de difícil acesso, está defasada.
Tenho recebido sucessivos pedidos de professores e diretores sobre as dificuldades de acesso e permanência em escolas que estão em áreas de violência endêmica e não recebem nenhum tratamento especial. Peço que vocês preparem a primeira versão de uma resolução que mantenha os critérios de difícil acesso, em vigor, e acrescente outros critérios, para que possamos tratar, de maneira abrangente, de escolas de difícil lotação.”
Poucos dias depois emiti outro memorando interno (não tenho cópia dele aqui em casa), constituindo um grupo de trabalho específico sobre violência. Estabeleci prazo até meados de abril para receber uma proposta completa e coerente sobre as possibilidades de ação da secretaria em tema tão difícil e delicado.
Estávamos esperando o encerramento da campanha contra o Aedes Aegypti, previsto para o final de abril, para iniciar uma campanha sistemática contra a violência nas escolas e no entorno delas. “Escola como lugar de paz” é o nome provisório com que trabalhamos.
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5. Na próxima segunda-feira, depois de amanhã, terei mais uma reunião com o secretário de Administração Penitenciária e sua equipe. As duas secretarias – uma municipal, outra estadual – já vinham preparando uma ação conjunta nos presídios do Rio de Janeiro, onde estão 51 mil pessoas, tendo em vista propiciar estudo e trabalho aos detentos, em uma tentativa de diminuir a percentagem de reincidência no crime.
Com a mediação da Unesco, já estabelecida, iniciaremos ação semelhante nos estabelecimentos do Degase, que cuida de menores infratores.
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6. Já atuávamos no limite das nossas possibilidades, sem divulgar prematuramente ações que ainda estavam em fase preparatória.
A morte de Maria Eduarda altera a situação. Ela nos impele a levar nossas ações a um novo patamar.
Todo o nosso cronograma deve ser compactado, e novas ações precisam ser pensadas. É enorme o número de cidadãos e cidadãs que, com razão, mostram sinais de impaciência e desespero com a situação atual da cidade, do estado e do país, sentimentos que se associam ao descrédito nos partidos políticos e na ação do poder público.
Creio que a comunidade escolar da nossa cidade – que não é pequena – deve tomar a frente de uma mobilização cidadã. Convocarei uma reunião na segunda-feira para debatermos isso. Não desejo tomar uma posição pessoal. Quero ouvir nossos colegas e compreender qual é o sentimento da rede.
Neste momento, inclino-me a sugerir que todas as nossas 1.537 escolas dediquem a próxima quarta-feira a realizar debates, reflexões, ações de mobilização e preparação de materiais em torno do tema da violência e da necessidade da paz, para que na quinta-feira, quando se completará uma semana da morte da nossa aluna, saiamos juntos às ruas, pacificamente e sem conotações partidárias, para dizer ao povo do Rio de Janeiro que é hora de começar a reconstruir as condições da convivência em nossa cidade.
Os profissionais da educação têm autoridade moral para assumir um papel ativo nessa mobilização, cada vez mais necessária, da sociedade carioca.
É o que penso agora, às 3:30 horas da manhã, nesta madrugada insone de sábado para domingo.
Cesar Benjamin
Secretário"
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