quinta-feira, 31 de maio de 2012

Cidade Tiradentes busca retomar rotina após toque de recolher


Escola pública manteve funcionamento nesta quinta (Foto: Rafael Sampaio/G1)Moradores de Cidade Tiradentes, na Zona Leste de São Paulo, buscam retomar rotina após criminosos terem decretado toque de recolher na região. A Polícia Militar nega ter havido ameaças e afirma que manteve policiamento reforçado e que a "ordem pública" permanece.

Na terça-feira (29) e quarta-feira (30), escolas e postos de saúde chegaram a ficar fechados. Os moradores relataram ter ouvido ameaças de represálias por causa da morte de seis suspeitos de pertencerem a uma quadrilha em confronto com equipes das Rondas Ostensivas Tobias Aguiar (Rota).

Nesta tarde e começo da noite de quinta-feira (31), o G1 circulou por ruas e visitou endereços de órgãos públicos, além do comércio local. Escolas, postos de saúde e supermercado estavam funcionando, apesar do baixo movimento.

De acordo com a Polícia Civil, nenhuma ocorrência relacionada às ameaças foi registrada desde terça-feira. Em nota, a Prefeitura disse que "alguns equipamentos optaram pela não abertura ao público por decisão da direção das unidades influenciada por boatos. assim que informadas, as respectivas secretarias determinaram o imediato restabelecimento das atividades".

Rotina
A maior parte dos moradores ouvidos pelo G1 alega não ter saído de casa nos dois últimos dias por receio de que algo pudesse acontecer. Na escola municipal José Augusto César Salgado, duas funcionárias informaram que poucas crianças frequentaram as aulas nesta quinta. Dos cerca de 1,3 mil alunos que vão ao colégio de ensino fundamental, apenas 50 apareceram, dizem elas. As duas, que pediram para não serem identificadas, ressaltaram que os pais estão com medo de enviar os filhos às aulas.

Tudo começou na noite de terça, disse uma delas. "Parece que mataram um chefe do tráfico aqui na região, e por isso surgiram as ameaças", afirmou. "Imagina se vem alguém desconhecido de moto na porta da sua casa e diz para você ir buscar seu filho senão a coisa vai ficar feia. Você não vai?", disse a mulher, que preferiu não se identificar.
Comandante da 4ª Companhia da PM do 28º Batalhão em Cidade Tiradentes, o tenente Wagner Sanchez reconhece o clima de medo e diz que um dos alvos eram os policiais, segundo o relato de moradores. "Na terça começou esse assunto. As rondas saíram para as ruas, havia a ideia de que os veículos policiais poderiam ser atacados. Mas nada de concreto até agora", disse.A auxiliar de limpeza Marta disse morar no bairro há 29 anos e nunca tinha visto nada parecido no bairro. Seu filho, diz ela, trabalha no hospital que fica na Avenida dos Metalúrgicos à noite. Ela teve medo de que ele fosse vítima do toque de recolher. "Graças a Deus ele estava de folga", suspirou. Ela, que não quis dizer o sobrenome, afirmou não saber a razão dos boatos. "Saio às 4h30 para trabalhar e volto cedo, não fico na rua", disse.
Para o policial, criminosos estão tentando transtornar a população. Nenhum atentado ou incidente foi registrado até agora, com exceção das ameaças, diz. Não há indícios de suspeitos pelas ameaças, nem investigação em curso, segundo ele.
O tenente disse surpreso pelo pânico estar persistindo após três dias. "Na quarta, se intensificaram e se estendeu até hoje. Reforçamos o policiamento, tentamos tranquilizar a população, acho que as pessoas estão retomando a vida", afirmou.
Na Escola Estadual Ruy de Mello Junqueira, os funcionários trabalhavam normalmente, assim como no posto de saúde Cidade Tiradentes 1. A gerente do posto afirmou que a equipe de reportagem do G1 não era a primeira querendo saber sobre o toque de recolher. "Não recebemos ameaças diretas até agora. Nós estamos funcionando normalmente", disse ela.
Pacientes, no entanto, reconheceram que o movimento no posto estava bem abaixo do normal, possivelmente devido ao medo. Moradora do bairro, Simone (não quis revelar o sobrenome), disse que teve um AVC recentemente e por isso frequenta a Unidade Básica de Saúde. "Na terça eu nem saí de casa. Mas hoje eu vou fazer o quê? Preciso de tratamento médico", disse ela.
Medo
No primeiro dia de ameaças, funcionários das três escolas estaduais informaram que as instituições não abriram. A Secretaria de Estado da Educação disse que as escolas abriram normalmente. A exceção foi a Escola Fernando Pessoa, que chegou a abrir as portas, mas como os alunos não compareceram, optou por fechar às 19h30.

Na terça, uma universitária que estuda em uma faculdade no Tatuapé, na Zona Leste de São Paulo, conta ter voltado às pressas para casa. "Muita gente saiu correndo, criou um pânico geral. A gente não sabe direito o que está acontecendo, está tudo muito quieto", disse a jovem, que pediu para não ser identificada.

Ela estava em um ônibus na Rua dos Têxteis, uma das principais do bairro, e teve que descer em outro ponto - a pista foi bloqueada por policiais como medida de segurança, segundo a estudante. "A rua está fechada na altura de um Batalhão da PM. É uma das avenidas principais, onde os ônibus passam. Estou muito assustada com essa história", afirmou.

A funcionária de um colégio disse que o toque de recolher chegou como um boato, mas foi seguido por medo da violência. Cerca de 300 alunos do turno da noite que teriam aula foram dispensados na escola da funcionária. "Tem três escolas públicas grandes no bairro, as três estão fechadas. Como temos adolescentes, jovens de 15 anos que estudam à noite, eles acabaram sendo mandados para casa", disse.
Unidade de Saúde funcionou, mas estava vazia ao fim da tarde (Foto: Rafael Sampaio/G1)Unidade de Saúde funcionou, mas estava vazia ao fim da tarde (Foto: Rafael Sampaio/G1)G1

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