O coordenador das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), coronel Frederico Caldas, anunciou neste domingo (3) que 70 policiais militares lotados na UPP da Rocinha estão sendo trocados por outros policiais. Segundo ele, a alteração tem relação com o aspecto psicológico que os policiais enfrentaram após a morte do ajudante de pedreiro Amarildo de Souza. Segundo o coronel, muitos policiais pediram para deixar a unidade. O efetivo da Rocinha é de 700 PMs, a maior quantidade de policiais em uma única UPP.
"A gente identificou que houve um processo de retração. Os policiais estavam se sentindo acuados, muitos deles intimidados. A gente compreende o que está acontecendo e decidiu fazer a troca". O anúncio foi feito durante o velório do soldado Melquizedeque Basílio, no Jardim da Saudade, em Sulacap, Zona Oeste do Rio.
Segundo o coronel, o comércio de drogas continua sendo feito nas comunidades. Por isso, a necessidade de realizar o patrulhamento em áreas em que eles não entravam. "Não tenho dúvida alguma de que tudo isso é movido pela venda da droga, e de que o processo de pacificação foi um duro golpe, um prejuízo para eles".
O coronel disse que a polícia decidiu alterar a forma de patrulhamento na comunidade e os recentes enfrentamentos entre os policiais e os criminosos no local podem ser atribuídos a essa mudança. "O que a gente tem buscado é dar um reforço na medida que os problemas vão surgindo. Os próprios comandantes das UPPs já sinalizaram que é necessário o reforço. Na comunidade de São Carlos já colocamos 30 policiais a mais".
O comandante das UPPs relatou a preocupação com o comércio de drogas e o movimento de criminosos em dois pontos da Rocinha: na localidade conhecida como Roupa Suja e na descida da Rua Dois.
Entenda o caso Amarildo
Vinte e cinco policiais da UPP da Rocinha foram denunciados e 13 estão presos preventivamente. Entre os detidos estão o ex-comandante da UPP, major Edson Santos, e o ex-subcomandante, Luiz Felipe de Medeiros.
No dia 28 de outubro, o Bom Dia Rio divulgou informações sobre o depoimento de quatro mulheres soldados que serviam na unidade. Segundo o Ministério Público, elas contaram que receberam ordens de superiores para ocultar provas da tortura a Amarildo e que foram obrigadas a dar declarações pré-combinadas aos investigadores do caso.
Uma das soldados contou que estava dentro da UPP quando ouviu gritos de dor e pedidos de socorro atrás da unidade. Ela disse que foi até a parte da frente da sala e tapou os ouvidos para não ouvir mais o que estava acontecendo. Ao concluir que um homem estava sendo torturado e falou para duas colegas: “Isso não se faz nem com um animal”.
De acordo com a policial, a tortura durou cerca de 40 minutos. Depois, tudo ficou em silêncio. Ela, então, disse ter ouvido risos.
Elas contaram ainda que a violência contra Amarildo ocorreu atrás de contêineres que servem de base à UPP da Rocinha. Depois da tortura relatada, o local foi transformado num depósito, sinal de que o objetivo era atrapalhar a investigação.
Escuta foi decisiva
Uma escuta feita pela polícia, com autorização da Justiça, e revelada com exclusividade pelo Jornal Nacional no dia 20 de outubro, foi a prova decisiva para a conclusão do caso. Os investigadores dizem que desvendaram como foi a participação de cada PM no caso
Na gravação, um homem que se identifica como o traficante Catatau faz ameaças a um policial infiltrado no tráfico e dá a entender que matou Amarildo, conhecido como Boi. A perícia comprovou que esse homem era o soldado Marlon Campos Reis fazendo uma encenação.
A investigação do Grupo de Combate ao Crime Organizado do Ministério Público mostrou como foi a participação de cada um dos envolvidos no caso. E revelou que quatro policias militares foram responsáveis - diretamente - por torturar Amarildo de Souza.
São eles: o ex-subcomandante da UPP, tenente Luiz Felipe de Medeiros; e os soldados Anderson Maia e Douglas Roberto Vital Machado, presos há quase 20 dias. E o sargento Reinaldo Gonçalves dos Santos.
As prisões preventivas dele e de mais dois PMs foram pedidas na terça-feira (22) à Justiça. De acordo com os promotores, Amarildo foi torturado com choques elétricos, afogamento e sufocado com sacos plásticos.
“O Amarildo pedia socorro. Inclusive tem uma fala que uma testemunha ressalta dizendo: ‘Não, não, isso não. Prefiro que me matem’”, afirmou Carmen Eliza Carvalho, promotora de Justiça. Enquanto o ajudante de pedreiro era torturado por quatro policiais, outros 12 ficaram do lado de fora, de vigia.
g1
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